The Rolling Stones no show histórico de 2006 em Copacabana. Fonte: Isto é
Ainda me lembro quando eu tinha uns 15 anos, ou menos até, de ter visto um filme com Denzel Washignton. No filme, que depois vim a descobrir que o nome em português era Possuídos, existia uma espécie anjo caído que possuía as pessoas e atormentava a vida do personagem protagonista representado pelo Denzel. E a maneira que ele fazia isso era cantando sempre o mesmo trecho de uma música: “The time, is on my side, yes, it is! The time.....”. Até entendo a escolha por esse trecho da música, ele é, realmente, pegajoso. Essa talvez tenha sido a primeira música dos Rolling Stones que eu fiquei curioso de ouvir e até hoje me pego cantarolando esse verso quando ocorre algo que sei que só o tempo vai resolver.
O rock sempre fez parte da minha vida, apesar de eu demorar um pouco para entender isso, tive amizades escolhidas a dedo que me mostraram um universo riquíssimo, cheio de emoção e transpiração, a música se tornou um motivo para me reunir aos finais de semana com amigos, de iniciar conversas com estranhos, de participar de infindáveis debates sobre quem seria o melhor guitarrista, o melhor baixista, que vocalista alcançava tons mais altos. Hoje olho para esses debates e dou risada, quanto tempo gastado discutindo sobre temas que não importavam nem para os próprios músicos, lembro de uma cena onde John Lennon sendo entrevistado foi perguntado se o Ringo Star era o melhor baterista do mundo, eis que John Lennon responde sorrindo: “Ringo não nem o melhor baterista dos Beatles”. Ou quando Renato Russo, se referindo a Dado Villa-Lobos, diz: “Ele não tocava tão bem mas era muito bonitinho”.
Eu tive a oportunidade única de ver os Rolling Stones ao vivo na praia de Copacabana em 2006, tinha vinte e poucos anos, um monte de amigos e muita vontade. Morando no interior lembro de termos saído bem cedo num ônibus fretado, éramos umas trinta pessoas, chegamos à cidade do Rio por volta da hora do almoço, o clima era elétrico. Alguns de nós foram almoçar, outros para casa de parentes, uns mais animados foram tomar um banho de mar. Eu não lembro o que eu fiz, fui pela inércia, lembro que fiquei pela praia, vendo o público chegar, foi uma espera longa, não lembro mais que horas o show começou, mas não foram menos de dez horas sentados na praia. Nunca gostei da muvuca, então fiquei num lugar bem afastado do palco, bem afastado, mas mesmo assim lembro de como a sensação era única, lendas vivas do rock n’ roll e eu ali presenciando aquele momento histórico. Eu já disse que fiquei bem afastado do palco? Para se ter uma ideia, ao final do show e reencontrar alguns amigos que ficaram mais próximos ao palco eles falaram de como foi irado quando o palco “andou”, da onde eu estava não vi nada disso, foram mais de um milhão e meio de pessoas naquela praia, realmente, histórico. O fato de no final termos conseguindo encontrar todo mundo, trinta e três pessoas em meio a um milhão e meio, sãos e salvos para voltarmos juntos para ônibus só faz me crer que o rock opera milagres. Eles voltariam aos palcos brasileiros em 2016, mas aí já não pude prestigiá-los.
Keith Richards e Charlie Watts novamente no Brasil em 2016. Fonte: Jornal Cruzeiro
O dia 24/08/2021 se torna um dia triste para a história do rock n´ roll mundial, Charlie Watts, baterista e o mais discreto dos Rolling Stones, morre aos 80 anos de idade. Uma lenda do rock entra para o rol de imortais do rock com pessoas como Jimmy Hendrix, Joe Cocker, Janis Joplin e Kurt Cobain, não esquecendo dos ícones nacionais Cássia Heller, Renato Russo e Cazuza. Pois bem, só nos resta cantarolar: “The time, is on my side, yes, it is! The time.....”.
Germano Godoy
Eu estava lá em 2006, ou não estava?