Foto: Divulgação/Câmara
A Comissão Especial de Combate à Desordem Urbana da Assembleia Legislativa do Rio confirmou que um médico é funcionário fantasma na folha de pagamentos do Hospital Geral de Guarus. Ele estava na Bahia emprestando o nome para outro profissional trabalhar na unidade de Saúde, foi o que confirmou a coordenadora do HGG durante visita de fiscalização realizada essa semana pelos deputados Alan Lopes, Felippe Poubel – ambos do PL – e Rodrigo Amorim, do PTB. Além disso, médicos estariam assinando pontos de datas futuras.
Diante da gravidade das irregularidades, foi feito registro na 146ª Delegacia da Polícia Civil, além de denúncia ao Ministério Público do Rio de Janeiro. Cerca de R$1 bilhão teria sido repassado pelo governo do estado à atual gestão da prefeitura de Campos.
O trabalho de fiscalização da Alerj é importante, mas o circo criado em torno do episódio pelos parlamentares tem provocado questionamentos. Toda a ação foi filmada dentro do Hospital por uma equipe de produção audiovisual que editou vídeos para divulgar nas redes sociais dos parlamentares expondo, em seu ambiente de trabalho, profissionais que nada tinham a ver com as irregularidades.
Se se sentirem lesados, os profissionais podem acionar Poubel e Amorim na Justiça para tirar os vídeos do ar, além de solicitar indenização pelos danos causados.
A fiscalização do uso dos recursos estaduais é prerrogativa da Alerj e deve ser executada com seriedade, como todo serviço público. Os deputados poderiam ter vindo a público falar sobre as irregularidades encontradas após a ação, mas optaram por constranger e expor os profissionais do HGG em seu ambiente de trabalho. Com qual objetivo?
Como o circo continuou na Câmara de Vereadores de Campos, onde os parlamentares discursaram numa audiência pública marcada por bate-boca, agressões físicas, expulsões e tentativa de invasão, tudo leva a crer que objetivo é a autopromoção.
Assim, Amorim e Poubel dão continuidade a uma tradição iniciada pelo deputado federal paulista Celso Russomanno (Republicanos) e que teve como expoentes personagens como o deputado federal Delegado da Cunha (PP-SP) e Gabriel Monteiro (PL), amigo íntimo de Poubel, que perdeu o cargo de vereador do Rio ao ser preso por estupro.
Mesmo após confessar ter encenado ações policiais para o YouTube, Da Cunha foi eleito deputado e essa semana se envolveu em novo escândalo. Sua companheira, Betina Grusieck, registrou boletim de ocorrência o acusando de lesão corporal, ameaça, injúria e violência doméstica.
Coincidência ou não, Poubel também é investigado por violência contra mulher. Em julho de 2018, sua ex-esposa, Priscila Jardim Cardoso, registrou boletim de ocorrência acusando o político de Maricá de dar um “soco na cabeça” de sua mãe, Rosineide Jardim.
Rodrigo Amorim também é envolvido em polêmicas, tendo conquistado fama ao quebrar, ao lado Daniel Silveira, placa com nome de Marielle Franco, vereadora do PSoL assassinada por milicianos em 2018.
Com a prisão de Silveira, a derrota de Bolsonaro e o fracasso da tentativa de golpe do dia 8 de janeiro, Poubel e Amorim tentam se descolar do bolsonarismo, afirmando que o trabalho de fiscalização da Alerj “não é de direita, centro ou esquerda”. No entanto, é preciso tomar cuidado.
A fiscalização é um trabalho de Estado, de interesse público, independente de ideologia. Isso é fato. Mas a forma como ela tem sido feita, através de uma espetacularização oportunista despolitizante, tende a alimentar o ódio à política e a corroer a democracia. Foi o que vimos nos últimos anos no Brasil.
E que não se esqueça: em 2023, o prefeito Wladimir Garotinho estava ao lado desses personagens fazendo campanha para Jair Bolsonaro. O mundo dá voltas...
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